Traduzido para 25 línguas e com mais de um milhão de exemplares vendidos, 1001 filmes para ver antes de morrer inclui obras de mais de 30 países e revela o que há de melhor no cinema de todos os tempos. Mais de 50 críticos consagrados selecionaram 1001 filmes imperdíveis e os reuniram neste guia de referência para todos os apaixonados pela sétima arte.

Ilustrado com centenas de cartazes, cenas de filmes e retratos de atores, o livro traz lado a lado as obras mais significativas de todos os gêneros - de ação a vanguarda, passando por animação, comédia, aventura, documentário, musical, romance, drama, suspense, terror, curta-metragem ficção científica. Organizado por ordem cronológica, este livro pode ser usado para aprofundar seus conhecimentos sobre um filme específico ou apenas para escolher o que ver hoje à noite. Traduzido para 25 línguas e com mais de um milhão de exemplares vendidos, "1001 filmes para ver antes de morrer" inclui obras de mais de 30 países e revela o que há de melhor no cinema de todos os tempos.
É claro que eu, amante das duas coisas Sétima Arte e Listas , não podia deixar passar a oportunidade de trazer para vocês a lista dos filmes e os respectivos links na nossa querida mulinha que vai trabalhar sem parar por um bom tempo...rsrsrs
Lembrem-se que as datas e traduçoes dos títulos dos filmes segue a lista do livro e não do IMDb.
Sempre que necessitarem de fontes na mula é só solicitar. Abraços a todos.

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terça-feira, 27 de julho de 2010

402. O DESPREZO (1963)

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O Desprezo conta a história da crise de um casal em uma viagem à Itália que acaba mal. Camille (Brigitte Bardot) tem a impressão de que seu marido não lhe ama mais. Paul Javal, seu marido, é um roteirista que, para garantir o conforto da esposa e evitar o rompimento da relação, aceita escrever uma nova adaptação da obra grega "A Odisséia" para o cinema. Primeiro, nascem a dúvida e o desprezo em Camille e depois vem a incompreensão e a raiva de Paul

Crítica
Em Le mépris, Godard provou que sabia, como se diz em francês," maitriser un sujet", dominar, dar conta de uma narração mais tradicional. E para intentar esta proeza, ele se serve de um pressuposto mítico, fundador: a aventura grega, o mito de uma terra cuja percepção fora guiada por uma luz meridional, à superfície da qual o ser das coisas tomaria feição. É esta luz que, segundo um filósofo como Heidegger, metaforiza a percepção grega do Ser, que serve para Godard estabelecer um contraponto em paralelo com o cinema. Igualmente, nesta arte com um pressuposto ontológico tão irremediável, a luz enforma as coisas, permite-lhes a emergência à superfície da costa do olhar. O resto é delírio, mas a luz que aureola O desprezo é ofuscante. A aventura de Ulisses passa pelo prisma do desencanto, sob a ótica das relações de produção de uma arte não mais artesanal. Ao mesmo tempo em que o cinema tem um peso ontológico indiscutível, ele é uma arte condicionada até a raiz dos cabelos ( bem, do fotograma) pela técnica. Neste sentido, é uma arte situada numa encruzilhada , marcada pelos signos do consumismo de massa e daquele primeiro olhar devastador do homem sobre a terra, aquela inspeção deslumbrada que faz a delícia dos filósofos e cuja investigação, na semântica cinematográfica, foi obra de caras como André Bazin e Pasolini.

É aí que o mito entra. Ele media a relação entre o passado e o presente, mostra que os tempos não estão tão apartados assim. O mito grego serve a Godard para mediar a ligação entre o passado da arte ( o roteirista, um preciso Picolli, às voltas com seu desencanto amoroso) e o presente ( o produtor e suas injunções contraditórias, patéticas e muitas vezes histéricas). Talvez a ponte de ligação , a encarnação do mito, esteja na figura desta Penélope deslocada, Brigitte Bardot, ora musa, ora objeto nas mãos do produtor. O trângulo amoroso ,( descrito com uma sobriedade impecável, ressaltada pelas sombras da fotografia de Cotard e pela montagem repetitiva, quase obssessiva de Godard) remete, na leitura de Godard, tanto ao passado ( agora) arqueológico de um cinema romântico, inventário ontológico, inaugural do mundo quanto ao seu presente/futuro, não despido de um charme corrompido ( e mostrado por Godard com menos virulência do que seria de se esperar).

Falei em Bardot como personificação do mito e do papel mediador do mesmo em relação à dialética cinema/arte e indústria. Mas como esquecer de Fritz Lang, inspiração-mor de Godard, com Renoir e Rosselini? Lang aqui personifica, como não poderia deixar de ser, o próprio cinema. Numa entrevista, Godard dissera que O desprezo era um filme sobre como as pessoas julgam umas às outras e depois são julgadas pelo cinema, na figura de Lang. Se Bardot é o mito, na acepção inclusive literal ( por que Godard a teria escolhido afinal, senão pelo seu papel emblemático de musa de massa, desta faceta industrial, atual do cinema?), Lang é o meio supremo, sob a égide do qual o mito configura suas articulações ( cinema como ontologia, arte, descrição mítica e como produto, objeto de consumo), e joga, na figura irresistível de Bardot, com suas facetas distintas. Lang é o começo e o fim de tudo, o cinema como a arte que mais deve, em sua lógica constitutiva, à ontologia e à técnica, respectivamente. E viva o cinema!, representado num filme cuja concisão, montagem inventiva e articulação de recursos ( música, foto, direção de atores, planos) deixam-nos entrever, numa abertura re-(e) prospectiva, o carrefour temporal onde se situa esta arte ainda jovem, mas cujas fronteiras de expressão coincidem, muitas vezes, com os mitos fundadores da cultura.

Fonte

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