Traduzido para 25 línguas e com mais de um milhão de exemplares vendidos, 1001 filmes para ver antes de morrer inclui obras de mais de 30 países e revela o que há de melhor no cinema de todos os tempos. Mais de 50 críticos consagrados selecionaram 1001 filmes imperdíveis e os reuniram neste guia de referência para todos os apaixonados pela sétima arte.

Ilustrado com centenas de cartazes, cenas de filmes e retratos de atores, o livro traz lado a lado as obras mais significativas de todos os gêneros - de ação a vanguarda, passando por animação, comédia, aventura, documentário, musical, romance, drama, suspense, terror, curta-metragem ficção científica. Organizado por ordem cronológica, este livro pode ser usado para aprofundar seus conhecimentos sobre um filme específico ou apenas para escolher o que ver hoje à noite. Traduzido para 25 línguas e com mais de um milhão de exemplares vendidos, "1001 filmes para ver antes de morrer" inclui obras de mais de 30 países e revela o que há de melhor no cinema de todos os tempos.
É claro que eu, amante das duas coisas Sétima Arte e Listas , não podia deixar passar a oportunidade de trazer para vocês a lista dos filmes e os respectivos links na nossa querida mulinha que vai trabalhar sem parar por um bom tempo...rsrsrs
Lembrem-se que as datas e traduçoes dos títulos dos filmes segue a lista do livro e não do IMDb.
Sempre que necessitarem de fontes na mula é só solicitar. Abraços a todos.

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terça-feira, 13 de julho de 2010

385. A ROTINA TEM SEU ENCANTO (1962)



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O viúvo Shuhei Hirayama leva uma vida tranqüila graças a seus filhos Kazuo e Michiko. Durante uma festa com seus antigos colegas e seu professor Sakuma, descobre que a filha deste se tornou amarga e triste por nunca ter se casado para poder ficar tomando conta do pai. Isso leva Shuhei a pensar sobre sua própria filha, que já está com 24 anos, e começa a arquitetar um plano para casá-la.

Curiosidade
Último filme de Ozu.

Crítica
A aparente fixidez da rotina transpõe-se em cada quadro de Ozu. O fluxo das estações (também elas de certa forma rotineiras) atravessa perpendicularmente estes quadros, trazendo pequenas variações para os homens que os habitam. O olhar falsamente "congelado" da decupagem nos deixa com as sutis mudanças que podem se dar nos rostos e vozes humanos, a despeito da circularidade dos seus atos. O mundo existe então apenas visto por uma lente 50mm. Planificado, ele é uma superfície quase sem volume, na qual toda a tridimensionalidade está achatada num mesmo plano, composto basicamente de três camadas e cuja profundidade de campo é quase nula. Num primeiro plano: objetos definidos, mas fora de foco, em segundo plano, personagens em foco e em terceiro plano, o cenário fora de foco. Plano e contraplano dispõem-se quase sempre em 180º e sua absoluta frontalidade contempla a profundidade em movimentos laterais. Ao deslizar sobre esta superfície, os personagens revelam um mundo bidimensional, que se desdobra em labirintos espaciais sem relevo. A espessura que ganham então estes planos nos atrai a atenção para o impulso de perscrutá-la. Os leves meneios de cabeça ganham a importância de grandes feitos, os pequenos gestos do cotidiano marcam uma relação intensa entre homens, objetos e espaço, que dividem o mesmo plano imagético e uma importância existencial mútua.

Nestas planícies, as pessoas são as responsáveis por uma ligeira circulação, mas, no entanto, de tão ligadas ao mundo material à sua volta, movem-se muito sutilmente, mais lentamente que o tempo e, freqüentemente, só percebem as determinações deste em descompasso com ele. Mas mesmo assim lhe são simpáticos. Contemplam a velhice com algum pesar e um sorriso. Aguardam a solidão inevitável com bastante receio e a voz mansa. Tentam cumprir ou escapar de suas obrigações com uma gentil resignação, refletida no tom monocórdio das falas (algo bressoniano) e na repetição inócua de palavras e interjeições. Se Michiko tivesse comunicado que gostava de Miura ou se seu irmão tivesse percebido antes e tomado logo a iniciativa de procurá-lo, Miura não teria se comprometido com a bilheteira do ônibus no qual viajava todo dia. Mas não é possível mudar aquilo que passou. As pessoas que se vão não podemos trazer de volta, assim como o resultado da guerra não é reversível. Porque o mundo é tal como ele é. Físico, material e imóvel. Embalado pelo tempo em constante e incessante movimento. Tempo este que a câmera tenta fixar, em meio ao paradoxo de também registrá-lo na sua duração, no seu passamento. O quadro fixo vibra então com o movimento imperceptível do ar e da luz, que os ponteiros do relógio tentam quantificar. É sempre preciso, portanto, dar corda no relógio, tentar evitar ao máximo que o tempo escape, que ele passe por nós rápido demais.

Um pouco como Manoel de Oliveira, Ozu tenta captar um tempo com ares de eternidade. No entanto, enquanto o português busca um tempo eterno que guardariam as coisas físicas, Ozu busca o tempo fugidio que marca os acontecimentos de um mundo de compasso cotidiano. Para ele, o tempo de um quadro vazio é o tempo do ar que circula, ou dos objetos que envelhecem um pouco mais. É a duração de algo que se dá nos personagens e que não podemos ver (porque nem eles mesmos podem ver). Já para Oliveira, este tempo é o tempo imemorial do que se deu naquele espaço e que está ali, embora não possamos ver. Sua câmera detém-se então na tentativa de captar esse invisível, enquanto Ozu tenta captar o presente que se dá, o tempo que corre junto com o rolo de filme na câmera. O tempo da decisão de Michiko pelo casamento e o da solidão que vem chegando ao pai. Do gosto e do efeito da cerveja que embala o medo do inevitável: a separação dos entes queridos pelo progredir da vida. Das pequenas coisas que passam, dos momentos que vêm e vão.

A narrativa, disposta em acontecimentos razoavelmente desconectados - estruturados em planos que constróem um espaço-tempo fragmentado, não permitindo nossa perfeita orientação em sua justaposição, embora compartilhem de uma continuidade espaço-temporal -, é extremamente frágil e existe apenas como esqueleto para o desfile de uma série de micro-narrativas, que se revelam o coração do filme. A busca de Hirayama por um marido para a filha Michiko, a princípio impulsionada pelas pessoas à sua volta e não por sua própria determinação, vai desvelando um mosaico de relações, envolvidas por expectativas, frustrações, tristezas, alegrias... Através de observações que partem de seus diversos encontros em bares - especialmente a partir de uma reunião que promove o reencontro com seu antigo professor de colegial 40 anos depois, no qual acaba enxergando um possível futuro para si mesmo -, ele parece despertar aos poucos, como se, subitamente, quem sabe ajudado pelo efeito do álcool sorvido em companhia dos amigos, começasse a enxergar todo o mundo que sempre esteve ali. O estranho clima da casa de Koichi, seu filho mais velho, na sua relação de quase disputa infantil com a mulher, a vida do filho mais novo, Kazuo, com seus flertes e amizades, a secretária que casa, a atendente do bar, que se parece com a falecida esposa, a filha que já passa da idade de casar e que dedica-se a cuidar dele e do irmão mais novo, ocupando um lugar que talvez não seja o seu. Um pequeno deslocamento da sua rotina provocou a percepção repentina do efeito do tempo à sua volta. A descoberta de quem se tornou seu professor 40 anos depois, assim como o reencontro de um antigo amigo e os alertas de seus colegas sobre arranjar o casamento da filha, sensibilizaram Hirayama para agir antes que o tempo passasse por ele. O que, no entanto, não impediu que este ultrapassasse a vontade de Michiko de ficar com Miura, dado que sua decisão de acatar a vontade do pai deu-se tarde demais. Aguardando a solidão nos cômodos da casa que se esvaziaram, porém, Hirayama está contente, num reflexo da alegria do seu professor, que, totalmente bêbado, só festejava a companhia dos ex-alunos e os momentos felizes por eles compartilhados no bar, não obstante sua difícil condição financeira e idade avançada. O gosto de viver cada momento supera então a percepção talvez melancólica do todo de uma vida. Ficamos com o gosto do instante.

Tatiana Monassa

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Sanma.no.aji.(aka.An.Autumn.Afternoon).(1962).DVDRip.XviD.avi

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