Traduzido para 25 línguas e com mais de um milhão de exemplares vendidos, 1001 filmes para ver antes de morrer inclui obras de mais de 30 países e revela o que há de melhor no cinema de todos os tempos. Mais de 50 críticos consagrados selecionaram 1001 filmes imperdíveis e os reuniram neste guia de referência para todos os apaixonados pela sétima arte.

Ilustrado com centenas de cartazes, cenas de filmes e retratos de atores, o livro traz lado a lado as obras mais significativas de todos os gêneros - de ação a vanguarda, passando por animação, comédia, aventura, documentário, musical, romance, drama, suspense, terror, curta-metragem ficção científica. Organizado por ordem cronológica, este livro pode ser usado para aprofundar seus conhecimentos sobre um filme específico ou apenas para escolher o que ver hoje à noite. Traduzido para 25 línguas e com mais de um milhão de exemplares vendidos, "1001 filmes para ver antes de morrer" inclui obras de mais de 30 países e revela o que há de melhor no cinema de todos os tempos.
É claro que eu, amante das duas coisas Sétima Arte e Listas , não podia deixar passar a oportunidade de trazer para vocês a lista dos filmes e os respectivos links na nossa querida mulinha que vai trabalhar sem parar por um bom tempo...rsrsrs
Lembrem-se que as datas e traduçoes dos títulos dos filmes segue a lista do livro e não do IMDb.
Sempre que necessitarem de fontes na mula é só solicitar. Abraços a todos.

NOSSOS DIRETORES

sexta-feira, 28 de maio de 2010

350. PICKPOCKET - O BATEDOR DE CARTEIRAS (1959)

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Michael é um jovem que começa a bater carteiras por prazer e pela emoção de roubar. Mas o hábito acaba tornando-se uma compulsão. Ele é preso e passa a refletir sobre seus atos, ao perceber o forte choque causado em sua mãe, família e em seus amigos. Ainda assim, ao ser solto, ele volta ao crime, juntando-se a um ladrão veterano. Mais uma vez sua consciência vai pesar, agora também porque ele se apaixonou por Jeanne. Inspirado no romance "Crime e Castigo", de Dostoievski.

Crítica
Michel é um homem amargurado e depressivo que tenta sua sorte nas ruas de Paris, roubando bolsas e carteiras. A estória começa logo com Michel nas corridas de cavalo, se remoendo de dúvidas sobre roubar ou não a mulher à sua frente. Ele sabe que não é um grande ladrão, faz isto por pura necessidade e, se for pego, não há caminho de volta; ele está arriscando sua liberdade em troca do que tiver dentro da bolsa da mulher. Com tantas pessoas à sua volta, ele receia ser visto e, após alguns momentos de exitação, enfia a mão trêmula dentro da bolsa e tira um chumaço de dinheiro. Cria-se um nó na garganta quando a mulher de repente se vira mas, para a tranquilidade de Michel, era apenas a corrida que havia acabado. Filmada de uma forma inteiramente impessoal e controlada, como um teatro de marionetes, toda a tensão da cena não está no que ocorre, mas no que não ocorre, e é assim pelos outros 73 minutos do filme.

Uma das características mais marcantes do cinema de Bresson é a total passividade dos atores e da câmera que, à primeira vista, pode espantar os espectadores desacostumados com o estilo. Se na superfície o filme parece emocionalmente morto, são nas pequenas nuances e detalhes que ele revela toda sua força. Encarnando um personagem camuseano de uma complexidade invejável, Michel é um sujeito que, ao mesmo tempo se corrói por uma culpa passada, mas não faz nada para mudar seu estilo de vida. Desempregado e pobre, ele é um fiel seguidor de sua vontade, e considera-se de valor indispensável para a sociedade. Em um dado momento, ele conta ao inspetor de polícia sua filosofia de que alguém que faça tão bem para os outros não mereceria ser condenado por eventuais pequenos crimes que comete, mas, seria Michel uma dessas pessoas? Provavelmente não, e no fundo ele sabe disso, e recusa a ajuda de emprego de seu amigo Jacques por temer provar-se um inútil; a vida do crime é mais fácil. Ele tem como livro de cabeceira o "Prince of the Pickpockets", de George Barrington, que conta a história de um lendário batedor de carteiras da Londres vitoriana, mas, mesmo com esse "guia", ele não é um grande ladrão, e suas ações desajeitadas e muitas vezes frustradas chamam a atenção de um ladrão profissional, que o toma como pupilo e o ensina toda a arte de bater carteiras.

Sim, é uma arte, e um dos aspectos fascinantes do filme é mostrar isso; Michel passa o dia inteiro treinando suas recém-adquiridas habilidades, seja jogando pinball para exercitar os reflexos ou aperfeiçoando a mão leve na técnica de de roubar um relógio do pulso de alguém, e se sente muito bem com isso. Finalmente ele é bom no que faz. Mas toda sua atenção para o ofício faz com que se descuide da vida, e outras pessoas passem a suspeitar dele, incluindo Jacques e o inspetor de polícia. A única que nada percebe é Jeanne, vizinha de sua mãe e agora namorada de Jacques. À medida em que o tempo passa, as ações de Michel vão ficando mais ousadas, culminando numa incrivelmente coreografada sequência na estação de trem, onde ele e outros comparsas vão roubando diversos passageiros à medida que andam, sem jamais levantarem suspeitas. Com o inspetor cada vez mais perto, Michel usa sua pequena fortuna para viajar, mas retorna a Paris dois anos depois, falido, onde a vida do crime o esperava. Desta vez, entretando, ele tem a oportunidade de fazer uma boa ação, roubando de um senhor que ele julga ter conseguido o dinheiro ilegalmente. Mas desta vez era uma cilada, e ele é preso. Na prisão, Jeanne (agora mãe solteira) vai visitá-lo, e disso começa a nascer um romance que o faz se arrepender de sua vida passada.

É um final talvez abrupto, mas ao meu ver encerra brilhantemente o filme. Não é um simples romance, a última cena mostra que era algo que Michel desejava há tempos, o que nos leva a perceber que, na verdade, há outro filme sendo rodado por trás deste. Não só em muitos casos a ação principal é omitida por fade-outs inesperados, como a própria estória está presente em fragmentos. Michel não é apenas o personagem principal, ele está presente em todas as cenas, e o nosso conhecimento está diretamente ligado ao dele. Vemos o que ele vê, ouvimos o que ele ouve, e por aí vai... mas todo o filme é um relato escrito por ele na cadeia, e nisso, detalhes importantes de sua vida são completamente esquecidos, como, por exemplo, seu amor secreto por Jeanne. Michel sempre foi egocêntrico, e esse novo relacionamento é uma chance de construir uma vida compartilhada com outra pessoa; também é a possibilidade de consertar aquilo que mais o corroía, não os crimes, e sim sua solidão. Ele sempre viveu isolado de todos, mesmo de seu amigo ou de sua mãe, e seu apartamento se transformou ao mesmo tempo em seu refúgio e sua prisão. Mas ao menos lá, ele tinha total controle sobre o espaço, e se sente extremamente orgulhoso quando a polícia investiga seu quarto atrás de provas e não consegue achá-las. Ao contrário do personagem de "Crime e Castigo", Michel não se sente bem na prisão, e busca refúgio em seus pensamentos, onde ele transcende as barras e paredes, mas aumenta assim sua isolação do mundo, e é aí que entra Jeanne.

Tecnicamente o filme também impressiona, com uma edição ao mesmo tempo ágil mas quase invisível, alternando a imobilidade e o movimento com grande destreza. A fotografia é belíssima e bastante nítida, trabalhando minimamente com variações de luz nos interiores. As atuações estão praticamente omissas, uma vez que Bresson não permite que ninguém atue em seus filmes, e o fato de transporem tamanha simpatia e cumplicidade ao espectador apenas com o olhar e as falas prova não só a genialidade do diretor, mas dos próprios atores (cuja atenção principal é Martin Lasalle como Michel, já que ele é quem tem mais tempo de tela). Mas, se por um lado as expressões e ações são tão contidas, um elemento se desprende do resto e parece assumir vida própria, que são as mãos. Tão presentes quanto os rostos, senão mais, as mãos estão sempre a fazer algo, por mais detalhado que seja, com destaque (é claro) para as cenas de furto. A já citada sequência na estação de trem nos proporciona com um verdadeiro balé de mãos, que estão sempre a roubar alguém e passar o produto para o cúmplice de trás, numa perfeita e incessante coreografia, que mostra toda a audácia e organização do grupo (em especial uma cena onde um deles rouba a carteira de um homem na sua frente, tira o dinheiro e a devolve no mesmo lugar). Toda a sequência é filmada mostrando apenas as mãos, em vários cortes desconexos que nos dão a sensação do espaço como um todo (Eisenstein teria se orgulhado se estivesse vivo).

Minimalista ao extremo, este filme consolida o estilo tão característico do diretor, e é talvez a melhor introdução a este, uma vez que esse estilo bressoniano de filmar não está tão presente em obras anteriores, e é muito forte a partir de A Grande Testemunha, culminando no insuportavelmente inerte Lancelot. Filmado na mesma época do nascimento da Nouvelle Vague, esse filme prova que Bresson estava anos a frente de seus conterrâneos, e era bastante admirado por estes, em especial Truffaut e Godard (este homenageou Pickpocket ao dar o nome ao personagem de Acossado de Michel). Aliás, faço das palavras de Jean-Luc as minhas: "Bresson é o cinema francês, assim como Dostoiévsky é a literatura russa e Mozart é a música alemã".

Por Roberto Ribeiro
28/05/2005

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