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Um casal em crise viaja para a Itália a fim de vender a propriedade que herdou. Em suas andanças pelas belas paisagens do país, os dois descobrem um novo sentido para suas vidas e, sobretudo, para seu amor. Katherine pressentirá, no contato com o passado italiano - tão remoto, e ao mesmo tempo tão próximo - a existência de um outro tempo, muito diferente do que rege a sociedade moderna. Nesse abismo entre o imediato e o eterno, ela começa notar a falta de sentido de sua vida sem amor. Enquanto isso, Alexander, num encontro casual com uma prostituta, se depara também com seu próprio vazio existencial. Ao final, a viagem à Itália se revela um mergulho no grande mistério da existência.
Marco do cinema moderno, o filme influenciou grandes cineastas, como Michelangelo Antonioni, François Truffaut e Jean-Luc Godard
Crítica
Katherine (Ingrid Bergman) experimenta uma crise conjugal enquanto faz turismo em Nápoles. Sente ciúmes e ressentimento do marido, que faz questão de fazer seus passeios sozinho. Assustada e ao mesmo tempo ávida em parecer indiferente diante de sua dependência afetiva, ela arrisca ir também sozinha aos lugares de seu interesse. Num museu, ao deparar-se com monumentos milenares, a heroína não reage, não sorri, não fala, talvez esboce algum desconforto no olhar. Ela apenas foi ao museu; ela apenas viu as estátuas. Seus problemas conjugais fogem – ou não são evidentes - nesta e noutras seqüências, mas existem na esfera global que é erigida a partir da mera exposição de semelhantes fragmentos de puro real. Noutro destes fragmentos, ela dirige o automóvel entre edifícios arruinados e vê populares correndo para todos os lados; suas faces silenciosas deduzem inquietação. Mas o que presumir de tal indício?
Tudo o que temos à frente é mise-en-scène, encarada agora como a instituição que distancia a subjetividade da heroína do nosso entendimento imediato, ao mesmo tempo esclarecendo-a. Tudo parece simultaneamente óbvio e obtuso. A princípio, não há função narrativa em tais seqüências (quando há, a impressão provém justamente do caráter global supracitado, que diz respeito ao contexto ao qual se inserem os fragmentos); tampouco razão documental - como deixava entrever os primeiros filmes neo-realistas. Temos o primado do factual e estamos em 1953, onde o neo-realismo não morreu: ao contrário, e graças a Rossellini, intensificou-se e atingiu a plenitude estética.
Muito polêmicas foram as mudanças de postura de Rossellini, que foi injustamente acusado pela crítica italiana de abandonar e involuir a causa social do neo-realismo para retratar a burguesia através de um posicionamento cada vez mais ambíguo. A sua defesa, claro, veio da França, de onde, evocada pela voz de André Bazin, a crítica argumentou a respeito do neo-realismo não como manifestação datada, mas como arcabouço de inúmeras potencialidades que não se limitam ao uso temático que outrora lhe dera origem, nome e condição. E, segundo eles, Rossellini foi o grande responsável por este desdobramento.
Para Bazin e seus discípulos, Rossellini detinha uma consciência global sobre os fatos, e tal consciência, antes de ser virtuosismo do artista, fazia parte de sua moral. Então, o que acontecia quando ele fazia filmes era a transformação de sua consciência e de sua moral em estilo, sendo este a quintessência do neo-realismo, que transcende a mera abordagem social defendida pelos italianos.
Não é difícil reconhecer nestas assertivas dados do aporte do que viria a se condensar na rubrica “Política dos Autores” e o papel fundamental de Rossellini no ensejo, mesmo incônscio, deste contexto. A obra está, enfim, aberta; e o cinema moderno, devidamente alicerçado.
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Viaggio.In.Italia.(1954).DVDRip.XviD.avi
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